AÇÃO PEDAGÓGICA PARA A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

 

                                                                                 

Por Marisa Belmudes Martinez

 

 

 

Tenho a oportunidade de trabalhar com várias escolas das cidades de Campinas e Valinhos atendendo crianças com dificuldades de aprendizagem. Seis delas são escolas da rede particular. Escolas grandes, que possuem laboratórios de informática, ciências, química e física muito bem equipados, salas de vídeo, matemoteca, playground, bibliotecas, quadras poli-esportivas, piscinas, enfim, estrutura física de “primeiro mundo”, como afirma seus diretores.

 

Nessas escolas os alunos têm aulas de artes, música, dança e esportes, fazem teatro, feira de ciências, robótica, tudo aquilo que uma escola de “primeiro mundo” deveria fazer. Porém não tenho visto essas escolas sendo estruturadas de forma adequada para o processo da inclusão educacional. Elas não só estão bastante longe de entender o real significado e objetivo deste processo, como também não dispõem nem de profissionais devidamente preparados nem de espaço físico adequado para atender alunos que apresentam deficiências.

 

Em nenhuma delas existem salas apropriadas para atender alunos com deficiências físicas ou auditivas, não existem rampas de acesso para alunos cadeirantes ou com deficiência visual. Também em nenhuma delas, até hoje, encontrei professores que saibam se comunicar em LIBRAS - Linguagem Brasileira dos Sinais tão necessária para o deficiente auditivo ou ainda, que conheçam e dominem BRAILE necessário para o deficiente visual.

 

Nessas escolas, se me deparado com professores mal preparados até mesmo para lidar com alunos tidos como “normais”, quanto mais com alunos que apresentam algum tipo de deficiência.

 

Recebo em meu consultório, muitas crianças que chegam com os “diagnósticos”, já quase prontos, de professores equivocados que as rotulam de preguiçosas, lentas, desmotivadas, desatentas, indiferentes, irreverentes e outros “elogios”, tentando mostrar que sabem muito bem o motivo da dificuldade de seus alunos.

 

Muitas dessas crianças que chegaram a mim apresentaram Desordem do Processamento Auditivo Central e a maioria das professoras, nunca tinha ouvido falar desse distúrbio. As poucas que já tinham lido alguma coisa, não se interessaram pelo assunto e nem em perceber que alguns alunos apresentavam sintomas característicos do distúrbio.

 

Num caso bastante recente, recebi uma criança de sete anos que chegou com o “diagnóstico” de déficit de atenção dado por uma professora de primeiro ano do ensino fundamental. Suas palavras:

 

- C.é um caso sério!!!! Não tem jeito! Mimado demais !!!  É muito apático, vive no mundo da lua, não quer aprender, tem preguiça. É irreverente, finge que não entende e, mal educado, me dá as costas quando falo com ele. Não contando ainda o fato de ele fazer quase todas as atividades erradas, de propósito, só pra me irritar! Faz tudo diferente do que eu peço para a classe. Além disso, ele tem o péssimo hábito de não anotar na agenda os exercícios de casa que costumo passar para a classe. O pouco que anota é errado e sem nexo. Tem preguiça até pra escrever as tarefas na agenda!

 

Esse aluno apresentava muita dificuldade para ser alfabetizado e constantemente recebia bilhetes de advertência. Os pais eram chamados para ouvir as muitas reclamações por parte da professora e da orientadora. Em um desses encontros a escola sugeriu que a família procurasse um psicólogo porque certamente a criança apresentava “graves problemas emocionais”.

 

A família chegou ao meu consultório, por indicação de amigos. Bastante arrasada com a situação, estavam em verdadeiro desespero porque a criança, apesar de dócil e meiga, chorava todas as vezes que tinha que fazer tarefas e reclamava que não entendia nada do que a “Tia” dizia.

 

Os pais trouxeram alguns exames que a criança já tinha feito, entre eles, apresentaram uma avaliação audiométrica considerada, aparentemente normal. Encaminhamos a criança para uma Avaliação do Processamento Auditivo Central que teve um resultado totalmente alterado e muito comprometedor. Imediatamente a escola foi informada e algumas mudanças básicas foram pedidas junto à coordenação para que esse aluno sentasse próximo á lousa, longe de janelas, ventiladores, enfim, procurando seguir as recomendações básicas para ajudá-lo.

 

Em seguida pedimos uma nova avaliação audiométrica, com outros profissionais para assim compararmos os resultados com o exame anterior. Na nova avaliação o resultado mostrava que essa criança tinha uma perda auditiva de 70% em um dos ouvidos e 40% no outro. Um terceiro exame foi feito pra descartar erros. E novamente os dados foram assustadores. C. tinha uma grande perda auditiva. Essa criança precisaria usar prótese auditiva nas duas orelhas!

 

Para espanto desta profissional e da família, a escola não atendeu as solicitações iniciais necessárias. A criança continuava sentada na última fileira. Ela foi nitidamente deixada de lado em seu processo de aprendizagem. A escola não dispunha de subsídios para trabalhar com este aluno, e nenhuma das professoras tinha qualquer tipo de preparo para trabalhar a alfabetização com crianças deficientes auditivas.

Como esta criança, tantas outras passam pelo mesmo problema, pela mesma incompetência, pelo mesmo preconceito.

 

Reafirmando, na maioria das escolas que atuo, infelizmente não vejo empenho nem preocupação da direção em equipar os espaço físico e preparar o corpo docente para receber crianças com necessidades educacionais especiais. Com certeza, por esse motivo é que estamos ainda muito longe de conseguir dar condições iguais de ensino para todos.

 

Uma escola com uma ação pedagógica eficiente é aquela que se propõe a atingir todos os alunos. É aquela que verdadeiramente se preocupa com a inclusão e para tanto, prepara seus professores, seu espaço físico e ainda, acolhe as famílias ajudando a amenizar as expectativas e o sofrimento. Especialmente, a verdadeira ação pedagógica da inclusão, faz com que o aluno com necessidades educacionais especiais, se sinta parte integrante e atuante na sociedade.

 

 

 

 

Marisa Belmudes Martinez

Artista Plástica – Psicopedagoga - Psicomotricista. Especialista em Jogos na Prática Psicopedagógica e Diagnóstico Psicopedagógico.

Formação Básica em Neuropsicologia / Mediadora do PEI / Capacitação em Saúde Mental Escolar pela UNICAMP.

E-mail: marisabmartinez@uol.com.br

 

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